Bolsonaro nunca pressionou para adiar ou alterar relatório sobre urnas, diz ex-ministro da Defesa
Paulo Sérgio Nogueira foi interrogado nesta terça-feira pelo ministro Alexandre de Moraes no STF
Brasília|Gabriela Coelho e Victoria Lacerda, do R7, em Brasília

Durante interrogatório no STF (Supremo Tribunal Federal) nesta terça-feira (10), o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira pediu desculpas por declarações feitas em 2022 contra o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e o ministro Alexandre de Moraes. Nogueira responde a uma ação penal por tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
“Inicialmente, presidente, eu queria me desculpar publicamente por ter feito aquelas colocações naquele dia”, afirmou. “E mais ainda, olhando para Vossa Excelência, porque nós trabalhamos juntos nesse processo”, completou, dirigindo-se a Moraes, que em 2022 foi presidente do TSE.
Paulo Sérgio explicou que, ao assumir o Ministério da Defesa em abril de 2022, ainda carregava uma postura ligada à sua formação militar. “Talvez, com aquela postura de militar, e vendo aos poucos que na Defesa as coisas seriam diferentes”, disse.
Ele também reconheceu que utilizou palavras “completamente inadequadas” para se referir ao trabalho do TSE. Segundo Nogueira, a afirmação feita por ele de que a Comissão de Transparência Eleitoral do tribunal era “para inglês ver” foi uma frase dita “inadvertidamente, sem razão”.
Além disso, respondeu que a utilização da metáfora militar “linha de contato com o inimigo”, em referência ao TSE, “jamais em tempo algum” quis dar a entender que o TSE era um inimigo.
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Bolsonaro nunca pressionou para adiar ou alterar relatório sobre urnas
Nogueira afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro jamais o pressionou para adiar ou modificar um relatório das Forças Armadas sobre o processo eleitoral de 2022.
“Jamais o presidente da República me pressionou, seja para mandar um relatório só no segundo turno, seja para alterar o relatório. O que me deixa de cabeça quente é saber, pela denúncia, que eu havia alterado esse relatório. Isso não é verdade”, declarou o ex-ministro da Defesa.
Ele também fez questão de dizer que a entrega do relatório técnico, com sugestões de melhorias ao Tribunal Superior Eleitoral, seguiu critérios técnicos da equipe responsável e que a decisão de não emitir um parecer ainda no primeiro turno se baseou em nota técnica assinada pelo coronel Wagner Oliveira da Silva, da Força Aérea Brasileira. Segundo o documento, um relatório parcial baseado em “fragmentos de informação” poderia ser inconsistente com as conclusões finais.
“O coronel Wagner era praticamente o líder técnico da equipe. Ele e o brigadeiro Baptista Júnior [ex-comandante da Aeronáutica] coordenaram tudo. A recomendação foi não entregar nenhum relatório parcial no primeiro turno. Isso foi acatado por razões técnicas”, explicou o ex-ministro.
Nogueira também negou que o relatório tenha sido despachado pessoalmente com Bolsonaro, algo dito pelo próprio ex-presidente. “Me perdoe, meu presidente Bolsonaro, quando ele disse, o próprio almirante Garnier [ex-comandante da Marinha], que nós despachamos com ele esse relatório... Presidente, eu não despachei esse relatório com ninguém”, respondeu.
Além disso, o ex-ministro afirmou que foi enviada ao TSE uma solicitação para que as oportunidades de melhoria apontadas pela comissão técnica fossem implementadas no segundo turno do pleito de 2022.
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Nogueira disse ter convocado ex-comandantes para encerrar discussões sobre golpe
O ex-ministro da Defesa disse que, após o resultado das eleições de 2022, ficou receoso sobre uma ruptura dentro das Forças Armadas, sobretudo em virtude de uma carta feita por militares do Exército para pressionar o então comandante Freire Gomes a aderir a um plano de golpe de Estado.
Dessa forma, Nogueira disse que reuniu os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para buscar coesão e dar um fim às discussões sobre medidas contra a Constituição.
“A minha responsabilidade naquele momento era preservar a coesão e a disciplina das Forças Armadas. Eu queria uma unidade. Então, tive que reunir, de alguma forma, para tentar fechar um consenso. Ali, eu acho que foi o ponto final, ficou claro que não teria nada — e, de fato, não teve. A partir dali, ninguém mais falou sobre esse assunto”, disse.
“No dia seguinte, eu disse ao presidente: ‘Essa reunião foi uma iniciativa minha’. Não era uma mensagem do presidente para consultar ninguém. Eu disse claramente a ele: ‘Presidente, não se fala mais sobre isso’. E, de fato, acreditei nisso. A reunião do dia 12 foi exatamente para encerrar essa questão. E depois disso, esse tema não foi mais tocado”, finalizou.
Bolsonaro abatido e pesaroso após derrota
Nogueira afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro ficou em estado emocional crítico após o resultado das eleições de 2022. Segundo ele, Bolsonaro ou por um período de forte abatimento nos meses de novembro e dezembro, logo após a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva.
“O presidente, desde o término das eleições, ficou abatido, pesaroso, depressivo, doente, e eu me preocupei com a saúde dele”, relatou Nogueira.
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“Cid era uma carta-branca”
Nogueira afirmou que Mauro Cid, então ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, atuava com autonomia dentro do Palácio do Planalto — uma condição que, segundo ele, era conhecida por todos ao redor da Presidência.
“O Cid era uma carta-branca. E a gente entendia, ele sabia disso e até usava o Cid. ‘Não estou precisando disso aqui, quem faz isso?’. Então o Cid, o papel dele era esse mesmo”, afirmou o general.
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